terça-feira, 18 de novembro de 2008

Pensar Arquitetura!

Lendo uma entrevista na Revista AU do arquiteto Patrik Schumacher, sócio de Zaha Hadid, que esteve a pouco no Brasil, fiquei a pensar sobre algumas questões. Segundo o arquiteto, “o Brasil é um país isolado (...) em relação à arquitetura mundial.” Schumacher proclama o fim das arquiteturas nacionais e do modernismo. "Mais do que nunca, vivemos em uma sociedade mundial. As culturas das arquiteturas nacionais desapareceram, ou, se ainda existem, estão com os dias contados", diz.

Segundo a entrevista, intitulada “As arquiteturas nacionais estão com os dias contados?” me intriga, pois vejo ser um pensamento muito primário do que é arquitetura. Em um trecho da entrevista, o arquiteto diz que “As arquiteturas nacionais são coisa do passado. Há 30 anos, você ainda iria a cidades que tinham heróis locais que faziam os edifícios públicos, que era professor e um representante da profissão. Hoje isso não é mais aplicável: arquitetos vão a várias partes do mundo e participam de concursos, e levam seu trabalho. Na Europa, todo concurso público tem de ser aberto a pelo menos todos os países europeus.”

Penso que a Arquitetura é influenciada, ou deveria ser sim, pelas regionalidades. Cada cidade, região, estado, país, tem uma história, uma cultura, uma maneira de viver e vivenciar o espaço completamente distintas. Não digo aqui que não devemos globalizar a arquitetura, mas acho que cada um tem uma contribuição a ser dada e, através desta regionalização, há a diversidade e aí sim uma globalização. Não penso que a arquitetura é efêmera, igual, homogênea.

Em outra entrevista à AU, o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, comenta algo que penso ser mais coerente. Arquiteto reconhecido pelo aproveitamento de sistemas naturais antes mesmo da "onda" da sustentabilidade afirma que, mais do que necessidade de preservação de recursos, essas questões eram encaradas como uma forma de humanização dos projetos. Segundo Lelé, "não existe trabalho de arquitetura sem considerar as questões ambientais". Comungo com as convicções deste arquiteto, que há muitos anos vem demonstrando que a arquitetura está além da estética, da forma e da função. Ela deve estar relacionada com diversos fatores, entre eles o ambiental, a fim de se integrar ao meio.

Em um trecho da entrevista, Lelé relata que “a idéia de priorizar sistemas naturais começou com meu trabalho no ambiente hospitalar. Você precisa humanizar esses locais. Por exemplo, a luz artificial é um problema. Há 30 anos, não se pensava em sustentabilidade e não havia problema de fornecimento energético. Era uma questão de humanização do projeto. Já a climatização por meio de ventos foi uma forma de controlar a infecção hospitalar.”

Quando perguntado como encara a “onda” da sustentabilidade, ele responde que “Eu continuo trabalhando da mesma forma que sempre trabalhei. Já trabalhava as questões ambientais, de humanizar. Quando me formei em arquitetura, dava-se muita importância ao sol, à ventilação natural. Acho que depois da guerra houve um funcionalismo que perdeu essas características. Hoje, essas questões estão voltando e as pessoas pensam que estou nisso.”

O link que faço entre estas duas entrevistas distintas, se dá pelo comentário feito por Lelé em outro trecho da entrevista. Quando é perguntado sobre Dubai, um dos maiores exemplos que podemos expor quanto à globalização da arquitetura exposta por Patrick Schumacher, ele diz que “Dubai executa diversas proezas pelos altos investimentos que são realizados na cidade. Há bons projetos e bons arquitetos no local. Há diversas proezas arquitetônicas, mas isso também não significa que seja uma boa arquitetura. Não há problema na proeza, mas sim em como é feita. Por exemplo, a Ópera de Sidney se transformou em um ícone internacional que representa a Austrália. O mesmo ocorre na ponte Golden Gate, na baía de São Francisco (EUA).”

Venho discutindo estas questões a algum tempo com amigos, arquitetos ou não, como Dubai hoje é um “samba do crioulo doido”, e que, hora alguma, percebemos uma preocupação com as questões ambientais. Ao vermos as ilhas Palm Trees sendo construídas, foi pensando na alteração do ciclo de marés? A densidade absurda e as imensas construções foi pensada de acordo com a estrutura geológica local e a condição dos ventos? Como manter uma cidade deste porte, no meio do deserto? A energia e os recursos naturais para que isso funcione e se mantenha?


Dubai 1991

Dubai 2005

Fonte: http://blog.uncovering.org/archives/2006/01/dubai.html

Minha crítica a esta chamada “arquitetura globalizada” se dá pela pouca atenção que se dá em relação às questões ambientais e a perda de identidade local. Como Lelé mesmo colocou, os monumentos arquitetônicos são muitas vezes, ícones nacionais e esta “regionalização”, pensados e planejados de acordo com o local onde está se implantando uma obra é de extrema importância.

Acho sim que arquitetos estrangeiros façam e desenvolvam seus trabalhos em qualquer lugar do mundo, mas se não houver uma preocupação com as questões ambientais, geológicas, climáticas, temos apenas proezas de engenharia e não ícones de uma boa arquitetura.

http://www.piniweb.com.br/construcao/arquitetura/joao-filgueiras-lima-o-lele-afirma-que-nao-ha-arquitetura-113640-1.asp?from=Correio+Pini

http://www.piniweb.com.br/construcao/arquitetura/forum-as-arquiteturas-nacionais-estao-com-os-dias-contados-115874-1.asp?from=Correio+Pini

Um comentário:

Marco Antonio Souza Borges Netto - Marcão disse...

O Fernando Lara, no seu blog Parede de Meia (http://parededemeia.blogspot.com/2008/11/depois-da-crise.html), comenta a respeito dos "passeios" de arquitetos estrangeiros renomados internacionalmente no Brasil.